segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Madson.

  Tudo começou com o amor. Maldito seja! Eu estava distraída, em perfeitas condições e forma. A vida ia bem, sucesso profissional. Maquiagem impecável, roupas na medida correta, sapatos confortáveis e... Maldito happy hour com os amigos - os amigos sempre tem o pequeno problema de achar que você está precisando de alguém - tudo deu errado naquela noite.
  Conheci dois caras no bar do centro, aquele com o tema meio rock. O primeiro era divertido, interessante, tinha um bigode engraçado, - odeio bigodes - era mais alto que eu. Conversamos, senti na hora que ele queria algo sério comigo. Ele foi chamar o amigo, - foi onde ele cometeu o maior erro de sua vida desprezível - o cara por quem me apaixonei. Lábia formidável, cabelos longos e lisos, olhar de maníaco, pose de assassino... O garoto ideal para uma sociopata.
  Foi amor (amor?) a primeira vista. Nos comemos com os olhos enquanto o 'senhor bigodes' tentava atrair minha atenção inutilmente com meia dúzia de mentiras fúteis, eu não conseguia ter coerência, eu mal conseguia respirar. Minha apreciação pela criatura perniciosa a minha frente me assustava, lembro-me que quando pequena jurei jamais manter nenhum tipo de admiração por ninguém que não eu. Era tarde demais, só me restava correr, fugir. Tive que inventar uma desculpa para ir embora, deu certo, mas nem tanto. O cara dos bigodes e seu amiguinho perverso conseguiram meu telefone.
  Eram duas e cinquenta e três da manhã quando abri a porta do meu apartamento. A Sexta feira tinha acabado e levado com ela a minha vida normal. Depois do banho praticamente entrei em coma na minha cama, fosse pelo cansaço ou pela predição de um futuro conturbado.
  Foram sete meses de uma luta inútil contra meu coquetel hormonal até eu admitir que estava apaixonada. Mais dois meses para eu aceitar que havia reciprocidade. O 'senhor bigodes' continuava sua luta sem nexo por mim, resolvi dar uma chance pra ele, como meu brinquedo. Posso dizer claramente que esse foi o começo do fim.
  Era costume eu fazer um joguinho sujo. Fingia me aproximar do meu brinquedo e quando ele acreditava, eu matava a esperança vazia de seu pobre coração. Escondi meu relacionamento consubstancial com meu ser perverso para tornar tudo mais divertido. Eu planejava contar à pobre criatura que me amava em vão, mas apenas para dar o golpe final, já que eles eram, até certo ponto, amigos.
  Foi em uma Quinta feira, um ano depois de eu estar atolada até os joelhos no maldito do amor que eu descobri uma suposta traição: Meu querido amava outra mulher. Foi simples e fácil a compreensão. Aceitei com um sorriso ser a segunda opção. Pensei em vingança, mas é o que dizem: 'antes de começar uma jornada de vingança, cave duas covas.'. Então, mãos à obra.
  Marquei um encontro com o senhor bigodes e meu amado no mesmo bar no qual nos conhecemos. Tratei logo de fingir estar bêbada e insisti para que me levassem até minha casa. Saí do bar me apoiando nos dois caras, numa atuação digna de Oscar. Chegamos a uma rua deserta, o clima entre nós era tão leve quanto chumbo. Parei. Como consequência, os dois também pararam. Primeiro o senhor bigodes, pensei. E assim aconteceu.
  Eu fui me aproximando devagar daquela criatura que tanto desprezava, como por instinto, ele foi dando passos para trás, até chegar em um muro meio escondido pelas árvores. A lua iluminava muito bem sua face nojenta e seu bigode por fazer. Não sei de onde tirei forças, talvez jamais saiba, mas sei que foi uma das melhores sensações por mim já vivenciadas. Enfiei a mão logo abaixo de suas costelas e fui tateando a procura do coração. Peguei-o. Senti-o pulsar freneticamente. Pensei em dar a oportunidade de aquele indivíduo tocar em meus lábios, mas o pulsar do coração dele me desconcentrou. Não foi uma morte rápida. Ele não conseguia gritar. Puxei para mim o resto de vida que ainda havia nele. Tenho certeza que sentiu tudo, o cérebro ainda funcionava. O coração ainda saiu meio pulsante, batendo debilmente na minha mão ensaguentada. Um a menos, tudo perfeito.
  Quando fui procurar meu querido, ele havia sumido. Não sei bem o que ele chegou a ver, jamais terei a oportunidade de perguntar. Fui atrás da mulher que conseguira me tirar o cara perfeito. Ela não esperava ninguém, claro, muito menos uma maluca com um pote de soda cáustica na mão e uma maleta contendo sabe-se lá o que na outra. Talvez fosse por isso que ela tentou gritar, acho que tinha um pouco de sangue no meu braço. Desimportante, consegui apagá-la com uma seringa de um entorpecente qualquer no pescoço.
  Eu a levei para um lugar confortável, onde gritos não pudessem ser ouvidos. O que eu fiz não foi uma coisa sadia, mas eu gostei bastante. Tirei toda a pele dela, alguns músculos também. Para que ela sentisse a dor em sua real intensidade e não desmaiasse eu apliquei adrenalina, mas acho que ela só morreu quando eu joguei uma solução concentrada de soda cáustica, nem preciso comentar que adorei o suave som de seus gritos misturados com a reação pele-hidróxido de sódio. Faltava o meu amado.
   Essa coisa de vingança não combina muito comigo, eu acho. Eu não consegui me vingar do meu amado, fui fraca. Quando o vi, apenas pude dizer: Eu te amei, de verdade. Foi basicamente isso, e nada mais. Contei tudo a ele mas pedi que ficasse em silêncio. O erro dele foi negar. Eu não tinha chances contra o físico dele, por isso apenas cortei-lhe a língua, depois a cabeça e me senti a rainha de copas da Alice.
  Não senti e não sinto vontade de me entregar ao bando de desordeiros fúteis que chamam de polícia, ninguém veio atrás de mim até agora. Esse é o problema do amor, quando ele não vem completo, as pessoas tendem a tapar os buracos que ele deixa, essa foi a minha forma de fazer isso. Eu sou assim, não há como me mudar, só peço ao próximo (se houver próximo) que me ame por completo.
  Meu nome é Madson, eu fiz coisas terríveis, coisas que me levarão ao inferno se ele existir. Fiz coisas odiosas e não me arrependo de nenhuma delas.

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