segunda-feira, 6 de outubro de 2014

A suposta "auhoaraa"

   Era apenas um dia quente. Amanheceu-se e anoiteceu-se sem brilho algum de estranheza, mais normal que qualquer outro dia fútil da estação em curso. Minhas coisas estavam espalhadas pelo chão e eu tentava fazer uma trança apertada para resolver o problema que meu cabelo me causa, o cretino adora me irritar quando estou lendo, se atira na frente do meu campo de visão e finge não ter limites quando escorrega dos prendedores. Na bagunça do meu quarto, encontrei algo que fez meu coração dar um salto.
   Não era uma barata... Mas eu gostaria que fosse, matar baratas é consideravelmente mais fácil que matar lembranças. Aninhado num canto, meio disforme e um tanto velho, havia um pedaço do meu passado. Uma parceria antiga, com um brilho meio fosco e com um aspecto malcuidado. Abri e me deparei com uma verdade que me fez escorrer algumas lágrimas de ódio. Não havia mais o brilho de anos antes, quando eu ganhei aquele objeto, e de fato não o ganhei. Mas se tornou uma memória e eu não sei bem como isso funciona, mas era perceptível que não haviam mais os sentimentos ali expressados.
   Havia a palavra 'forever' escrita, embora de tão desgastada, demorei quase cinco minutos para decifrar o que significava. Depois de alguns meses de abandono é relativamente fácil esquecer a essência de qualquer coisa. Observando o que eu tinha em mãos era facilmente notável que eu era o principal motivo de aquela parceria ter durado tanto tempo, eu era o que sustentava aquela relação e não tinha noção disso. Isso era difícil engolir. Eu, que acreditava tanto naquilo, estava tendo uma epifania maldita que me fazia tão mal a ponto de ter minha alma transbordada em lágrimas.
   Por fim, decidi que não valia a pena ficar tão ferida por algo que não era sólido. Mas a queda de uma doce ilusão é muito mais profunda para um simples gesto de negar apagar tudo, é preciso - digo isso apenas em meu caso - retirar todo o veneno que entrou na alma, minha única forma de expelir totalmente esse veneno é chorando. Foi possível tirar lições importantes deste evento.
    É fato que toda vez que alguém destrói nossa confiança, cria-se uma capa que enrijece a sensibilidade interna. Depois de alguns anos seremos apenas velhos carrancudos com tantas feridas que não podem cicatrizar que nos considerarão casos perdidos. Eu não quero ficar assim. Sinto que sou mais que isso... Quantas vezes alguém pode te ferir até que você não suporte mais? E quando você não aguentar mais, será considerado fraco e sensível quantas vezes até que sinta tanta raiva a ponto de explodir? Quantas pessoas são tão ridículas e imundas a ponto de não entender isso? A minha dica a mim mesma é: tome cuidado com seres humanos. Esses animaizinhos conscientes irão te magoar de uma forma ou de outra, mais cedo ou mais tarde. E você deve estar preparada para isso.

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